Condutor mais perigoso é o que bebeu pouco e se acha ‘pleno’. Quem está muito alterado é impedido de dirigir pelos próprios amigos, diz tenente de Batalhão de Trânsito.
Minas Gerais foi o Estado com o maior número de motoristas autuados por dirigir alcoolizados (veja mais abaixo). Os dados, da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), mostram a unidade da Federação à frente de São Paulo, onde, historicamente, o número de multas para os condutores bêbados é mais alto. Em estradas e cidades mineiras, ao longo do ano passado, foram 17.197 infrações entregues aos motoristas, aproximadamente 173% a mais que as 6.285 de 2020 – ano marcado pelo início da pandemia e pela menor circulação de veículos nas ruas.
Os dados mostram também que Minas retomou o patamar de multas que havia atingido em 2019, pré-pandemia, quando foram emitidas 17.508 multas.
Cada autuação por esse tipo de multa é cercada de histórias de irresponsabilidade e até tragédias provocadas pela mistura de álcool e direção. No Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) da Polícia Militar do Estado, responsável pela fiscalização em BH e região metropolitana, a percepção é que o perfil do motorista flagrado nessa situação mudou – o que trouxe ainda mais perigo.
“Hoje em dia, não é tão usual a gente se deparar com um condutor que esteja com a capacidade (de direção) muito alterada. Este normalmente é até impedido de dirigir pelos amigos. O que mais vemos geralmente são condutores que se acham em condição de dirigir, achando que estão plenos, mas, na verdade, não estão”, relata a tenente Rayanne Rocha, porta-voz do BPTran.
“Este é o condutor perigoso. É o cara que acha que bebeu pouco”, detalha. “A sociedade ajuda a coibir o motorista visivelmente embriagado e que insiste em dirigir. Mas a tolerância com quem bebe pouco é maior. E o risco de acidente é o mesmo ou até maior”, acrescentou.
Razões
Segundo as autoridades responsáveis pela fiscalização do trânsito, parte do aumento no número de multas em 2021 é creditada à retomada de circulação de veículos naquele ano, que teve um momento menos restritivo da pandemia, após o avanço da vacinação contra a Covid e a diminuição das medidas restritivas.
No entanto, para além da questão pandêmica e da extensão da malha rodoviária do Estado – a maior do Brasil, com 7.689 km de rodovias federais e 23.663 km de estradas estaduais –, a mudança nas metodologias de trabalho de quem fiscaliza o trânsito também está entre as razões para o aumento no número de multas.
As blitze de Lei Seca se tornaram mais efetivas com a utilização da inteligência, de acordo com o tenente André Muniz, chefe da comunicação organizacional da Polícia Militar Rodoviária (PMRv).
“Estamos com novo sistema de mapeamento das ocorrências dessas infrações, e isso possibilitou à polícia fazer as operações pontuais e mais assertivas”, conclui.
Mudança na lei deixou de exigir teste do bafômetro
O cerco a quem dirige sob efeito de álcool se fechou ao longo dos anos, a ponto de a legislação prever punição inclusive para quem se recusa a soprar o bafômetro. Desde 2014, devido a uma alteração no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a comprovação de que o motorista está alcoolizado pode ser feita com o relato do agente de trânsito sobre sinais de embriaguez, como hálito etílico, fala desconexa e reflexos alterados.
“A lei vem se adaptando para que sociedade seja desestimulada a beber e dirigir”, diz Kallyde Macedo, advogado especialista no CTB.
Ações estão mais efetivas e em locais estratégicos, diz PM
As blitze da Lei Seca se modernizaram desde que foram implantadas no Brasil, há 13 anos. Se, para alguns, a impressão é que elas estão mais escassas, para a Polícia Militar, as operações tornaram-se mais efetivas e presentes em pontos estratégicos.
“Nossas operações estão concentradas no entorno de regiões boêmias, principalmente onde temos mais ocorrências de trânsito”, diz a tenente Rayanne Rocha, porta-voz do BPTran, que cita fiscalizações nas avenidas Fleming, na Pampulha, e Cristiano Machado, perto da rua Alberto Cintra, na região Nordeste.
Diferença entre Estados
Em Minas, cada força de segurança faz, separadamente, a grande maioria das fiscalizações. Já em Rio de Janeiro e São Paulo, as operações integram as forças de segurança. Em São Paulo, por exemplo, nos três primeiros meses de 2022, o Departamento de Trânsito participou de 75 fiscalizações que envolveram polícias Militar, Civil e Técnico-Científica.
No Rio, as blitze mudam de local para surpreender os motoristas. “Estão sendo realizadas ações móveis, com apoio de vans e motocicletas”, esclarece o governo local, em nota. “Ao longo dos anos houve aumento do efetivo e das equipes, além de investimento em tecnologia”, diz o texto.
Prisão
O condutor bêbado que é flagrado dirigindo perigosamente ou se acidenta pode ficar preso de seis meses a três anos. A chance de pagar fiança é decidida pela Justiça.
O Tempo