Foto: Valter Campanato / Agência Brasil
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depôs na terça-feira (10 de junho) ao ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele se tornou o principal alvo do inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Durante a oitiva, Bolsonaro respondeu sobre reuniões, documentos e propostas que colocaram seu nome no centro da crise institucional.
Ex-presidente fala sobre estado de sítio e minuta
Ao ser questionado, Bolsonaro admitiu que discutiu o estado de sítio com aliados após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negar um pedido do PL para anular parte dos votos. O partido, inclusive, foi multado por litigância de má-fé. Segundo ele, a proposta surgiu dentro de um debate constitucional, mas acabou descartada rapidamente.
“Conversamos sobre hipóteses constitucionais. Nada foi assinado”, afirmou. Em seguida, completou: “Abandonamos qualquer ideia nesse sentido. Enfrentamos o fim do nosso governo da forma que deu”.
Moraes pressiona sobre minuta e Mauro Cid
Ao tratar da minuta que sugeria prender autoridades e anular o resultado eleitoral, Bolsonaro negou ter escrito ou modificado o documento. Essa versão contradiz a delação do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, que declarou que o então presidente “enxugou” o texto.
“Eu não enxuguei nada. Nunca tratei de minuta golpista fora do que prevê a Constituição. A palavra ‘minuta’ virou sinônimo de conspiração, mas não se encaixa no que aconteceu”, rebateu Bolsonaro.
Ainda assim, o ex-presidente reconheceu ter recebido o documento e discutido sugestões, inclusive em reuniões com os comandantes das Forças Armadas. Ele insistiu que agiu sempre dentro da legalidade. “Jamais cogitamos agir fora da lei ou da Constituição”, declarou.
Forças Armadas e alertas jurídicos
Durante o depoimento, Bolsonaro confirmou ter falado com os comandantes das Forças Armadas sobre o tema. Entretanto, negou qualquer clima de insubordinação. Disse, inclusive, que jamais sofreu ameaça de prisão por parte do comandante da Aeronáutica, como sugeriram delações.
O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, também foi citado. Segundo Bolsonaro, ele apenas fez um alerta técnico e jurídico, sem ameaças.
Críticas às urnas e desculpas aos ministros
Moraes então questionou diretamente sobre a alegada fraude nas urnas. Bolsonaro respondeu que sempre defendeu o voto impresso e que usou uma retórica crítica desde a época em que era deputado. “Nunca tive provas, era um desabafo”, afirmou.
Sobre a reunião ministerial de julho de 2022, em que afirmou que ministros do TSE teriam recebido propina, Bolsonaro pediu desculpas. “Falei por impulso. Peço desculpas aos ministros Moraes, Barroso e Fachin.”
Reunião com embaixadores e live sobre fraude
O ministro também abordou a reunião com embaixadores, em julho de 2022. Foi esse evento que levou Bolsonaro à inelegibilidade até 2030. Em sua defesa, ele disse que o objetivo era apenas alertar sobre o sistema eleitoral.
“Talvez eu tenha exagerado na forma, mas a intenção sempre foi alertar, não desacreditar”, explicou. Ele também comentou a live de 2021, considerada pela PGR como o início da tentativa de golpe. “Quis alertar para melhorar o processo. Se fosse mais confiável, essa crise não teria acontecido.”
Bolsonaro nega tentativa de interferência
Outro ponto abordado foi a acusação de que Bolsonaro tentou pressionar o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para incluir suspeitas no relatório das Forças Armadas. Bolsonaro negou. “Nunca pressionei ninguém. Ele elaborou o relatório com base técnica, e eu apenas concordei.”
Pós-eleição e atos de 8 de janeiro
Sobre o período após a derrota nas urnas, Bolsonaro disse que se isolou por escolha pessoal. Ele não passou a faixa presidencial por receio de ser vaiado. “Não havia mais o que fazer. Aceitamos o resultado”, afirmou.
Em relação ao 8 de janeiro, negou envolvimento. Disse que não desmontou os acampamentos por receio de migração dos manifestantes para a Praça dos Três Poderes. “Foi baderna. Não houve golpe, nem comando, nem armas. Faltava tudo.”
Discurso encontrado e conversa com hacker
A Polícia Federal encontrou em sua sala um discurso com trechos que defendiam medidas como Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e estado de sítio. Bolsonaro afirmou que o documento veio do inquérito e que não o redigiu. “Meu advogado me enviou esse texto. Não fui eu quem escreveu.”
Por fim, Bolsonaro confirmou que se reuniu com a deputada Carla Zambelli e o hacker Walter Delgatti Neto. Disse, no entanto, que não confiou nele e o encaminhou à Comissão de Transparência Eleitoral. “Nunca mais falei com ele.”
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