Foto: Gustavo Tempone / UFJF
O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), disponibiliza desde agosto de 2024 o serviço do Ambulatório de Toxina Botulínica para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A equipe atende cerca de 30 pessoas por mês, sempre às quartas-feiras pela manhã. O tratamento auxilia pacientes com distúrbios neurológicos como acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo craniano, paralisia cerebral e doenças da medula espinhal.
O ambulatório foca na reabilitação de pacientes com espasticidade, condição que provoca rigidez muscular e limita movimentos. Essa complicação atinge, principalmente, pessoas que sofreram AVC isquêmico ou hemorrágico, além de pacientes com lesões cerebrais, doenças medulares, esclerose múltipla ou paralisia cerebral. A rigidez excessiva compromete funções diárias, como caminhar, segurar objetos e manter a postura adequada.
O neurologista Daniel Sabino de Oliveira explica que o ambulatório melhora a espasticidade por meio da aplicação de toxina botulínica. “O objetivo é relaxar os músculos rígidos dos pacientes”, afirma. Ele ressalta que esse tratamento reduz a dor, previne deformidades e melhora a reabilitação. Além disso, diminui os custos do SUS com terapias prolongadas.
Toxina botulínica e seus benefícios
Apesar da fama no uso estético, a toxina botulínica desempenha um papel fundamental na medicina desde a década de 1980. O tratamento reduz a contração excessiva dos músculos, aliviando dores e proporcionando mais mobilidade.
Segundo Sabino, a toxina “relaxa o músculo espástico e, com isso, facilita os exercícios e alongamentos na fisioterapia, melhora o caminhar, a postura do braço e da perna e facilita a adaptação dos membros nas órteses”. Ele também destaca que o medicamento reduz os espasmos involuntários, que podem ocorrer diversas vezes ao longo do dia e interferir no bem-estar do paciente.
Além de aliviar os sintomas, a aplicação da toxina botulínica previne contraturas e deformidades articulares, permitindo que os pacientes mantenham a funcionalidade dos membros afetados. “De forma geral, o uso da toxina botulínica facilita a mobilidade, reduz a dor e o desconforto e torna mais fácil fazer a higiene, vestir roupas e usar órteses, reduzindo assim a sobrecarga do cuidador; e ainda permite aos pacientes aproveitarem mais a fisioterapia. Outra boa notícia é que, embora seja um medicamento de alto custo, ele é disponibilizado gratuitamente pelo SUS.”
História de um paciente
Thiago Gomes da Silva, de 32 anos, iniciou o tratamento no HU-UFJF/Ebserh há dois anos para reduzir a espasticidade. Após sofrer um acidente em 2022, perdeu parte dos movimentos do braço esquerdo. A equipe de fisioterapia o encaminhou ao ambulatório, onde ele segue o tratamento. Thiago conta que só conhecia a toxina botulínica pelo uso estético. “O tratamento tem me ajudado muito a relaxar os músculos e trabalhar o fortalecimento deles, para que eu consiga realizar atividades como andar e trabalhar com a mesma facilidade de antes”, destaca.
Equipe multiprofissional
Os pacientes do ambulatório contam com o suporte de uma equipe multiprofissional composta por neurologistas, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. Denise Freitas, fisioterapeuta do HU-UFJF/Ebserh, explica que a fisioterapia ajuda a melhorar a funcionalidade dos pacientes. “A fisioterapia trabalha mobilidade, alongamento e treino motor para favorecer a funcionalidade da região em que foi aplicada a toxina. Isso é feito para que o paciente desenvolva uma independência maior e apresente uma melhora na qualidade de vida.”
Em casos de comprometimento dos membros superiores, o paciente pode precisar de acompanhamento com terapia ocupacional. A terapeuta Camila Fiorin explica como o trabalho da equipe impacta na recuperação. “Através de treino de atividade do dia a dia e com adaptações a objetos próprios do cotidiano, nós conseguimos mobilizar a área do corpo afetada e promover um ganho na amplitude dos movimentos.”
Ensino e pesquisa
O ambulatório também participa da formação de alunos da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. A professora Luciana de Cassia Cardoso destaca a importância dessa experiência. “Esta prática tem contribuído para a formação do acadêmico, pois ele tem a oportunidade de atuar em casos que muitas vezes não verá em outros locais.”
A partir de março, um projeto de extensão abrirá vagas para estudantes interessados em atuar no ambulatório. O processo seletivo permitirá a participação voluntária ou via bolsa. “Todos saem ganhando, tanto os pacientes, ao apresentarem melhora funcional e de qualidade de vida, quanto os alunos, que saem para o mercado de trabalho mais preparados e seguros”, afirma Luciana.
Bruna Moreira, acadêmica do oitavo período de Fisioterapia, compartilha sua vivência no ambulatório. “Participar da equipe do Ambulatório de Toxina Botulínica está sendo uma experiência essencial em minha formação acadêmica. No ambulatório, aprendemos cada vez mais sobre os pacientes que realizaram esse tipo de procedimento e qual a melhor forma de intervir com a fisioterapia, a fim de prolongar os efeitos da substância. Fator fundamental para os pacientes, pois garante maior funcionalidade e qualidade de vida a eles. Levarei comigo para a vida todas as experiências e aprendizados frutos do ambulatório e, quando me formar, tenho certeza que sairei da faculdade com uma base muito maior para realizar atendimentos fisioterapêuticos junto a esse público.”
Como acessar o serviço
O atendimento no Ambulatório de Toxina Botulínica do HU-UFJF/Ebserh exige encaminhamento médico via Unidade Básica de Saúde (UBS) ou, no caso de pacientes de outras cidades, pela Secretaria de Saúde do município. O primeiro passo é passar por uma avaliação no Serviço de Neurologia, onde a equipe médica analisa a necessidade do tratamento.