
Foto: João Gabriel
A mineradora Nexa Resources, uma das maiores produtororas de zinco do mundo, enfrenta denúncias sérias na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Na audiência pública realizada nesta quinta-feira (3), deputados, trabalhadores e moradores revelaram que a empresa contamina o Rio Paraibuna e, consequentemente, agrava a saúde da população no Bairro Igrejinha, em Juiz de Fora.
O deputado Betão (PT), presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, convocou a audiência após receber denúncias do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora e Região (STIM-JF).
Rio Paraibuna apresenta cádmio 20 vezes acima do limite legal
Um estudo da UFJF mostrou níveis alarmantes de metais tóxicos no Rio Paraibuna. Em um ponto próximo à refinaria da Nexa, o cádmio — metal cancerígeno — atingiu concentrações 20 vezes maiores que o limite permitido. Além disso, a pesquisa registrou chumbo e zinco em níveis quase quatro e oito vezes superiores, respectivamente.
Além disso, a pesquisadora María Teresa Figueiroa destacou que os aumentos mais significativos ocorreram entre 2014 e 2020. Ela atribui a contaminação à Nexa, pois a empresa produz zinco e libera resíduos que contêm cádmio.
Trabalhadores relatam doenças graves e falta de apoio
O ex-funcionário da Nexa, Sebastião Domingos de Souza, sofre com sangramentos nasais, dores musculares, depressão e tosse seca. Ele confirma que exames revelaram zinco elevado no sangue e afirma que vive sem renda, sustentando-se com o aluguel de uma casa.
Além disso, outro trabalhador, Ricardo Nascimento, perdeu mais de 20 colegas para diferentes tipos de câncer. Já Sebastião Geraldo de Souza sofreu uma parada cardiorrespiratória após exames relacionados à contaminação.
Moradores denunciam impactos ambientais e de saúde
A moradora Maria Oneida Sousa abandonou sua casa devido a mudanças no curso do rio causadas pela Nexa e hoje paga aluguel. Por sua vez, a líder comunitária Luiza Mendonça relatou que a população enfrenta problemas respiratórios constantes. Ela lembrou que uma horta amanheceu coberta por ferrugem, seguida pela liberação de gás tóxico que quase matou moradores dentro de casa.
Nexa não comparece à audiência e recebe críticas
A Nexa não enviou representante para a audiência, apesar do convite formal. A empresa alegou estar organizando um seminário sobre segurança de barragens. No entanto, o deputado Betão criticou a ausência e ressaltou que a empresa possui 5,8 mil funcionários, o que facilitaria a designação de um representante.
Sindicato denuncia tentativa de ocultar contaminação
O presidente do sindicato, João César da Silva, afirmou que a Nexa tenta ocultar os índices de contaminação. Segundo ele, a empresa realiza exames logo após o retorno dos trabalhadores das férias, quando os níveis de metais pesados tendem a diminuir, dificultando a detecção.
Diante disso, o sindicato ajuizou uma ação judicial em 2024 para exigir indenizações, tratamento médico e melhorias nos procedimentos que evitem a exposição a metais tóxicos.
Câmara Municipal e órgãos públicos tomam providências
A vereadora Laíz Perrut, presidente da comissão especial da Câmara Municipal de Juiz de Fora, solicitou visita técnica à refinaria e exigiu um plano para mitigar os impactos ambientais. Ela também apontou suspeitas de que a Nexa opera sem o auto de vistoria do Corpo de Bombeiros.
Além disso, o superintendente regional do Trabalho, Carlos Calazans, afirmou que estenderá as investigações às unidades da Nexa em Juiz de Fora e Vazante, além da planta de Três Marias, onde já firmou acordo para resolver problemas semelhantes.
Para concluir a audiência, o deputado Betão pediu providências imediatas, incluindo inspeção da barragem de rejeitos, cuja vida útil se aproxima do fim, e investigação da poluição no Córrego Igrejinha.