Imagem ilustrativa / Divulgação UFJF
A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) assinaram um convênio para construir uma usina de resíduos orgânicos que transformará até 100 toneladas diárias de lixo em energia elétrica, biometano e biofertilizantes. Esse projeto, inédito entre administrações municipais no Brasil, tem previsão de conclusão para 2027.
O professor Emanuel Brandt, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFJF, coordena a iniciativa com apoio dos professores Marcos Borges, Sue Ellen Bottrel e Samuel Castro, do mesmo departamento, além do professor Marcos Borges, do curso de Engenharia de Produção. A equipe já iniciou estudos de viabilidade técnica e econômica, além da elaboração dos projetos de engenharia e da busca por licenças ambientais.
Capacidade e impacto ambiental
A usina funcionará em um terreno de 16 mil m² no bairro Benfica, próximo à BR-040. A localização foi escolhida devido à proximidade com a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig), o que facilitará a injeção de biometano no gasoduto.
Com um processo baseado no uso de biodigestores, a usina garantirá alta eficiência na conversão dos resíduos. Além disso, os produtos gerados terão impactos positivos tanto na economia quanto no meio ambiente. O biometano abastecerá entre 30 e 40 ônibus municipais, reduzindo os gastos com diesel em até R$ 1,1 milhão por mês. Já os biofertilizantes substituirão parte dos adubos químicos utilizados na agricultura regional.
Para Emanuel Brandt, a iniciativa representa um avanço significativo na gestão de resíduos da cidade. Ele destaca que “segundo a caracterização gravimétrica dos resíduos de Juiz de Fora, realizada pela UFJF em convênio anterior, as frações com potencial de destinação alternativa para recuperação material e energética representaram mais de 65% do total. Assim, estamos dando um grande passo rumo ao aproveitamento dessas frações dos resíduos da cidade”.
Esse projeto faz parte da Lei Municipal de Orgânicos nº 14.402, de 2022, e integra o programa Lixo Zero, que atualmente tramita na Câmara Municipal.
Juiz de Fora na vanguarda da inovação
Atualmente, o Brasil possui mais de 1.500 usinas de biogás, sendo Paraná e Minas Gerais os estados com maior representatividade no setor. No entanto, apenas cerca de 30 dessas plantas produzem biometano. Como o setor cresce rapidamente, especialistas estimam que, nos próximos cinco anos, o país contará com cerca de 200 unidades.
Diante desse cenário, Juiz de Fora busca se antecipar às tendências e se consolidar como referência no reaproveitamento de resíduos urbanos. Diferente de outros projetos existentes no Brasil, essa iniciativa municipal permitirá que a própria Prefeitura utilize o biometano gerado, tornando-se pioneira nesse modelo de gestão de resíduos.
Emanuel Brandt explica que essa abordagem inova no setor de saneamento municipal. “As iniciativas de biometano são mais voltadas para o setor industrial ou agronegócio, não existindo iniciativa nessa escala que estamos propondo para o setor de saneamento municipal. Existem municípios que produzem biometano no aterro sanitário, como ocorre na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em Nova Iguaçu. Entretanto, a ideia é diferente, vem antes do aterro”, afirma.
Grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia já discutem a adoção de ônibus movidos a biometano e gás natural. No entanto, nenhuma implementou um sistema integrado que gere seu próprio biocombustível a partir dos resíduos urbanos.
Além disso, o projeto está alinhado à Lei do Combustível do Futuro, que estabelece metas para aumentar a mistura de biometano no gás natural de 1% para 10% até 2034. Esse avanço impulsiona a busca por fontes sustentáveis de energia, tornando iniciativas como essa ainda mais relevantes para o futuro dos municípios brasileiros.
Por fim, Brandt ressalta a importância da usina para o desenvolvimento sustentável de Juiz de Fora. “O projeto coloca Juiz de Fora no mapa da inovação em gestão de resíduos no Brasil. Com a produção local de biometano, o município não apenas reduzirá custos operacionais, mas também contribuirá para a descarbonização e a sustentabilidade urbana”, conclui.