Nos últimos dias, autoridades e protetores dos animais têm divulgado flagrantes de situação de maus tratos e abandono no Canil Municipal de Juiz de Fora, na Zona da Mata. Em algumas imagens publicadas pela vereadora Kátia Franco (PSC), é possível ver cães mortos acondicionados em sacos de ração dentro de um freezer do estabelecimento.
Outras situações também foram denunciadas, como os maus tratos aos animais abrigados no canil, como cães e gatos desnutridos, que não conseguem se levantar, sem alimento e até uma égua que não enxerga sem ter ração para equinos.
Nessa terça-feira (25), a Polícia Civil foi até o local. De acordo com a assessoria da corporação, foi deflagrada a operação denominada Patrulha Canina “visando apurar denúncia de maus-tratos a animais” e que o responsável técnico que se encontrava no local foi conduzido à delegacia, na condição de testemunha, para prestar esclarecimentos relacionados ao funcionamento do canil. A polícia abriu inquérito para apurar os fatos e a investigação segue em andamento.
Em conversa com a reportagem, o delegado Rafael Gomes, responsável pela investigação, elencou diversas irregularidades constatadas pela equipe, que foi acompanhada por uma médica veterinária de Belo Horizonte. “Constatamos uma superlotação das baias, inadequação na separação de animais por condição de saúde, já que existiam animais saudáveis junto com animais doentes e isso é prejudicial à saude dos animais. Existia ainda inexistência de separação por agressividade, uma vez que vimos inclusive briga entre os animais. Chamou a atenção também da médica veterinária é que os gatos ficaram sem ração durante o período de três meses, tiveram que comer ração canina. Não existe qualquer sistema de tratamento de esgoto, as fezes dos animais vão para o esgoto comum do canil. Ausência de medicamentos constatadas no local, farmácia bem simples pelo número de animais que se encontravam lá”, elencou.
Sobre a denúncia de animais guardados no freezer, o delegado confirmou a situação. Segundo ele, entre segunda-feira (24) e terça, cinco animais morreram no canil. “E o que foi feito? Eles foram colocados em sacos de ração e armazenados no freezer. O correto seria ter colocado em sacos destinados para esse caso e além disso é necessário estabelecer a causa morte, porque dependendo da situação, não pode nem ser enviado para o aterro, sob pena de contaminar o lençol freático. Dependendo da causa da morte do animal, ele tem que ser cremado, é fato grave. Foi instaurado inquérito, a gestora não se encontrava no local, realizamos diligência para prendê-la, mas não localizamos, será intimada, assim como o funcionário e gestor de pessoas”, declarou.
A gestora citada pelo delegado é Rondônia Muniz, que segundo informações colhidas já na investigação, entregou o cargo após a operação.
A vereadora Kátia Franco disse à reportagem de O TEMPO que pede mudanças no canil desde a última eleição, mas “desde março as reclamações ficaram mais constantes porque nâo tinha programa de castração, o canil ficou superlotado e sem feira de adoção”. “Mas na semana passada indo visitar um gato que foi doado doente, constatei os animais em estado deplorável, animais doentes misturados com animais saudáveis, super magros e já tinha recebido uma denúncia que estava sem ração de gato e os mesmos estavam se alimentando com ração de cachorro, o que faz muito mal para os felinos. Foi denunciado também cães muito magros, gemendo de dor, aí voltei nos outros dias e vi que tinha animais precisando urgente de atendimento mais intensos”, contou.
Para a parlamentar do PSC, o estado geral do canil “é triste e falta muita coisa”.
Prefeitura se diz surpresa e reclama de politicagem
Com a repercussão dos vídeos e da operação da Polícia Civil, a prefeitura de Juiz de Fora divulgou ao menos dois vídeos se posicionando sobre a situação do Canil Municipal. No primeiro deles, feito pelo secretário de Comunicação Pública da Prefeitura, Márcio Guerra, o Executivo afirmou que registrou aumento de numero de cães e gatos abandonados em função da pandemia, o que gerou um acúmulo de animais, que “nornalmente chegam em situações de abandono, maus tratos, e até atropelados, cuidados que requerem a quarentena”. Segundo Guerra, os animais expostos chegaram debilitados ao canil e foram bem tratados. “Todos os outros animais, como atestam relatório em 28 de dezembro, gozam de boa saúde, não falta ração de qualidade e medicamentos. O Canil acolhe todos os animais e tem feito todos os esforços para adoção. O Canil não é hospital veterinário, é espaço para animais em situação de vulnerabilidade e não atendimento a situações políticas. A prefeitura repudia o assédio sofrido por servidores do canil e lamenta o uso político. Não e assim que conseguiremos as soluções. Em função da forma desrespeitosa, a veterinária Rondônia Muniz entregou o pedido de exoneração à prefeita”, declarou.
Horas depois, a prefeita Margarida Salomão (PT) também divulgou um vídeo com representantes da prefeitura. Diferente do que apurou a Polícia Civil e do que citou o secretário de Comunicação, Margarida alegou que veterinária responsável pediu exoneração no domingo (23) “pelo desrespeito com que foi tratada”. Sem citar nenhum fato específico das denúncias e da operação, a prefeita afirmou que a cidade “viveu uma tempestade de emoções e uma série de eventos no Canil desde domingo”. Margarida Salomão disse ainda que o canil, já sem direção na versão dela, “recebeu visita surpresa de algumas autoridades que fizeram disso um evento muito complicado”.
Por fim, a prefeitura declarou que os direitos dos animais são uma agenda importante do governo, “que não permitiremos que seja degradada por disputas políticas menores”. “No nosso entendimento, a causa será assegurada na sua plenitude na medida em que a tratemos de forma republicana, democrática, dialogando com a sociedade, mas especialmente garantir que todos os proceidmentos sejam tomados sem favorecimentos, que sejam adotados sem perspectivias inviesadas. Com qualidade e compromisso, possamos superar esse momento”, pontuou.
Em resposta ao vídeo, o delegado Rafael Gomes disse que a Polícia Civil trabalha com imparcialidade e isenção e que se avisasse que iriam até o local, o cenário poderia ter sido modificado. Já a vereadora Kátia Franco considerou que o video foi uma desculpa sem apresentar de fato esclarecimentos.
Fonte: O Tempo