Substância tóxica encontrada em corpo de PM em JF que bebeu cerveja é solvente

Dimetil glicol é o nome da substância química encontrada na biópsia renal de Antônio Paulo dos Santos, 61, militar aposentado morto na última quinta-feira (27) com quadro de insuficiência renal em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Órgãos municipais, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) investigam se o ex-militar foi contaminado por ingestão de dois latões de uma cerveja produzida em fábrica no município de Cláudio, na região Centro-Oeste do Estado. 

O composto químico é corriqueiramente usado em indústrias como solvente, e não há registros de aplicação da substância como líquido para refrigeração, como esclareceu o professor Luiz Cláudio de Almeida Barbosa, do departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O docente explicou também que o dimetil glicol encontrado nos rins de Antônio Paulo dos Santos, 61, não é igual ao dietilenoglicol. A segunda substância foi usada pela Cervejaria Backer nos tanques de refrigeração, e um furo no recipiente provocou a contaminação da bebida alcoólica – 29 pessoas foram intoxicadas pela cerveja entre 2019 e 2020, e 11 delas morreram segundo inquérito da PC. 

“Dentre as aplicações industriais para o etilenoglicol dimetil éter (também denominação química do dimetil glicol) destacam-se a produção de ingredientes ativos, solvente eletrolítico para baterias, corrosão de placas de circuito impresso e tratamento de superfícies de alumínio”, citou. “Não existe menção do uso dessa substância como fluido para refrigeração. O fato do artigo científico (pesquisado pelo professor) não mencionar esse uso, não descarta essa possibilidade”, ponderou o químico. 

O dimetil glicol é um líquido incolor e que pode ser misturado em água, como também detalhou o professor Luiz Cláudio. Em outro artigo igualmente consultado pelo docente da UFMG, a substância é citada como parte do processo para produção de resina epóxi, tintas, impressão a jato de tintas, corantes, esmaltes e até removedores de esmaltes.

Em relação à toxicidade do dimetil glicol para o organismo humano não há muitas indicações científicas, e, de acordo com o professor, em artigo por ele consultado são mencionados efeitos como irritação e infertilidade. “Os efeitos tóxicos para o dimetil glicol não são bem documentados, exceto alguns dados com animais, que indicam que o vapor do composto é irritante ao sistema respiratório, para a pele e para os olhos. Segundo o autor, o composto pode causar infertilidade e danos ao feto”, alertou. 

Investigação

Amostras da cerveja consumida pelo ex-militar Antônio Paulo dos Santos foram recolhidas pela Vigilância Sanitária de Juiz de Fora, e encaminhadas para análise na Fundação Ezequiel Dias (Funed) em Belo Horizonte. Segundo a instituição, o material foi repassado à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). 

Mapa não vê relação entre cerveja e morte de PM 

Em nota nessa terça-feira (1º) o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) disse que, por enquanto, não vê relação direta entre a ingestão da cerveja da marca Brussels, que foi consumida pelo militar, e a morte dele. “Até o momento não há evidência no caso em questão que estabeleça relação direta do óbito com o consumo do produto. Portanto, ainda não se justifica uma ação de fiscalização”, ponderou o órgão.

Também por meio de nota, a cervejaria responsável pela Brussels negou o uso de dimetil glicol na produção de bebidas alcoólicas. Representantes reforçaram que o resfriamento nos tanques de fermentação é feito com Álcool Etílico Potável, como é padrão entre cervejarias artesanais no Brasil.  

Com Informações: O Tempo