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Cada frasco contém imunizante suficiente para dez aplicações, mas equipamento só consegue retirar nove; a agulha retém parte do medicamento

O uso de agulhas e seringas inapropriadas provocaram a perda de 10,7 mil doses de vacina contra o coronavírus em Juiz de Fora, em Minas Gerais. O medicamento é da Coronavac, produzido pelo Instituto Butantan, e seria suficiente para imunizar mais de 5 mil pessoas com as duas aplicações necessárias.

O desperdício ocorreu por conta da incompatibilidade dos equipamentos fornecidos pelo governo estadual com os frascos multidoses do imunizante, de acordo com a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora. As seringas e agulhas recebidas pelo município mineiro não permitem a retirada de todas as dez doses que constam em cada recipiente.

— A agulha não é de baixo volume morto, como preconizada pelo fabricante. Em função disso, comunicamos a inviabilidade de retirar as dez doses de Coronavac — afirma a secretária de Saúde do município mineiro, Ana Cristina de Lima Pimentel.
Volume morto é o termo usado para designar o líquido que continua dentro da seringa após a aplicação. Ele fica retido entre o cilindro e a agulha e resulta em uma perda de imunizante. No caso da Coronavac, a seringa deve ser de baixo volume morto. No entanto, o equipamento recebido em Juiz de Fora não tem essa característica.

— Em função disso, comunicamos a inviabilidade de se retirar dez doses de Coronavac — diz a secretária. — A situação foi comunicada à Superintendência Regional de Saúde, sobre a necessidade de reenviar essas doses. Por ser inviável retirá-las, consideramos que elas não foram recebidas — acrescenta.

A comunicação formal foi feita por meio de um ofício enviado ao governo de Minas Gerais ainda em abril. Mas na ocasião, de acordo com Ana Pimentel, a gestão estadual de saúde já estava informada do problema. O GLOBO entrou em contato com a Secretaria de Saúde do estado mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

— Isso tem relação com processo de licitação. Acontece do vencedor distribuir o que existe no mercado naquele momento, a que estava disponível no momento. Durante a pandemia isso aconteceu com vários insumos — explica a secretária.

Apesar de incompatível, as seringas foram entregues no prazo e utilizadas para aplicação de vacinas em Juiz de Fora. O município já aplicou 256 mil doses de imunizantes: 180 mil pessoas receberam pelo menos a primeira dose e 76 mil tomaram a segunda.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora, o problema com as seringas afetou apenas a aplicação de doses da Coronavac. O envazamento dos imunizantes da AstraZeneca ou Pfizer estão sendo feitos com o equipamento apropriado.

O município também registrou a perda de outras 7 mil doses de vacina. Essas, no entanto, são consideradas perdas técnicas como problemas de armazenagem, conservação ou manuseio. Essa quantidade corresponde a 2,58% do total de vacinas aplicadas por Juiz de Fora no momento em que a questão das seringas foi reportado. O Plano Nacional de Imunização considera tolerável uma perda técnica de até 5% do total de imunizantes.

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